segunda-feira, 29 de junho de 2009

DISCIPULADO RADICAL - XVIII


Os olhos são a candeia do corpo (Mt 6:22). Com esta afirmação Jesus introduz um novo enfoque no projeto de Discipulado Radical: os olhos. E como início de abordagem sobre este tema já posso afirmar que, para o Mestre, os olhos – aqui talvez mais num sentido físico mesmo mas com implicações espirituais – são mais que simples reflexos da alma; são janelas que podem arejar ou aprisionar a alma.
Como janelas, os olhos demonstram claramente de que modo eu vejo! Meus olhos podem ver com maldade – enxergando maldosamente a todos os que me rodeiam (acompanhe a descrição medonha em Rm 1:28-32 e a advertência de Pv 3:29). Também podem ver com cobiça – desejando o que não deve me pertencer (2Pe 2:17-19 aborda esta perspectiva). Ou ainda podem ver com julgamento – me tornando um crítico do meu semelhante (o alerta pode ser visto em Rm 14:4). É com esta visão que meus olhos tornam-se grades que prendem a alma – trevas tremendas! (Mt 6:23).
De outro lado, os meus olhos podem ver diferentemente. Meus olhos podem ver com bondade – oferecendo um voto de confiança àqueles que me rodeiam (Rm 12:10 é um desafio). Também podem ver com doação – oferecendo-me ao próximo (o mandamento de Jesus pode ser lido em Jo 15:17). Ou ainda podem ver com compaixão – acolhendo com carinho e cuidado (leia ainda 1Pe 1:22). Assim meus olhos se tornam janelas abertas para a alma que podem trazer renovo e luz.
A candeia que são os meus olhos deve ser instrumento para o discipulado radical. Que eles possam arejar e irradiar luz e vida para dentro e para fora da minha alma. Para glória do Senhor.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A CONHECIDA HISTÓRIA DO JOVEM RICO


Três dos Evangelhos nos contam que certo homem foi procurar a Jesus interessado em saber como poderia alcançar o Reino eterno (Mt 19:16-22 / Mc 10:17-22 / Lc 18:18-30). Pelo diálogo com o Mestre compreendemos que ele era um bom jovem, cumpridor das Leis divinas, bem intencionado – além de rico. Parecia tudo correto, um candidato ideal para herdar a vida eterna; mas o fim não foi este. Vejamos o que ocorreu e aprendamos algumas lições.
Por mais que conheçamos a história, não podemos deixar passar a realidade que o jovem buscava seguir os preceitos divinos desde a sua juventude (Lc 18:21). A mais ainda: ele mesmo procurou Jesus demonstrando ter uma real intenção de cumprir algo que lhe coubesse para adquirir o direito a herança eterna. Que bom exemplo!
Neste ponto podemos parar a análise da história e voltar nossa reflexão para nós mesmos hoje. Será que se questionados por Jesus poderemos responder como o jovem da história? Será que temos cumprido a Lei de Deus em nossa vida, e ela faz parte de nossa própria maneira de ser desde criança? E mais ainda, temos demonstrado real interesse em buscar a Jesus para dele saber o que precisamos fazer para sermos herdeiros do Reino?
Diante deste quadro, e Jesus conhecendo o coração, o Mestre anuncia a sentença: Falta-te uma coisa (Mc 10:21). Ter observado a Lei e demonstrar uma boa intenção não é suficiente para se alcançar a vida eterna. No caso do personagem da história, faltava se desfazer dos bens que ocupavam um lugar de primazia em sua vida. Somente colocando Deus em primeiro lugar alguém se torna apto para o Reino.
Mais uma vez voltamos nosso foco para nossa vida. O que será que nos falta para nos tornarmos cidadãos do Reino de Deus? O que nos falta? O que está atrapalhando sua caminhada nesta vida para que alcance a futura?
A história deste encontro de certo jovem com Jesus pode muito se parecer com a nossa vida; mas que o nosso fim seja diferente daquele narrado nos Evangelhos.

(Na foto lá em cima, alguns de nossos jovens do Sol Nascente, sem dúvida, nossa maior riqueza!)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Graça não é de graça


Andei colocando minhas leituras em dia, entre elas o último número da revista Ultimato que traz como matéria de capa A Graça não é de graça (nem é preciso dizer que é muito boa – como sempre).
Como destaque quero ler a texto intitulado Agnus Dei – expressão latina que em bom português deve ser traduzida como Cordeiro de Deus – que compõe os artigos relacionados com a capa.
Falar sobre o Cordeiro de Deus na sua relação à graça é trazer para o centro de nossa fé e nossa teologia o tema central do Apocalipse – que é em última análise o livro mais festivo e mais exuberante de todo o NT.

“Digno é o Cordeiro
que foi morto
de receber poder, riqueza,
sabedoria, fora,
honra, glória e louvor!”
(Ap 5:12)

Mas, o que implica para nosso cristianismo cotidiano a centralização no Cordeiro de Deus?
(1) Ter o Cordeiro de Deus como centro de nossa doutrina nos faz saber e crer que Ele tira o pecado do mundo (João Batista apresentou Jesus assim em Jo 1:29). Sendo que o Cordeiro tira todo o pecado então não há porque se guardar mais mágoas ou traumas em nossa existência. Quem na sua vida ainda se sente preso a dores espirituais ou emocionais do passado e do presente é por que não experimentou o que o Cordeiro realmente significa.
(2) A presença do Cordeiro entre nós é a afirmação de que Deus desejou ser humano. Ao se fazer história o Eterno quis ser como cada um de nós, vivendo nossa história e experimentando nosso cotidiano (veja que Jesus ensinou algo parecido na oração modelo quando pediu que viesse a nós o seu reino em Mt 6:10). Querer fazer de fieis semideuses ou super-homens é desprezar o Cordeiro de Deus e sua obra em nossa vida cristã.
(3) Na obra do Cordeiro, e em especial seu sacrifício, estão demonstrados simultaneamente o amor e a justiça de Deus. Não há – e não pode haver – antagonismo entre ambos os aspectos da divindade. Na cruz o Cordeiro foi a expressão máxima do amor e a justiça manifesta de Deus. Pregar um esquecendo-se ou outro, seja qual for a argumentação, é esvaziar o Cordeiro e torná-lo incoerente.
(4) E finalmente trazer o Cordeiro para o centro de nossa fé é reafirmar que o céu é mais que um pressuposto teórico ou escape psicológico, é a certeza de que ele é um lugar acolhedor e seguro – é a casa do Pai – e o lugar onde cumpriremos nosso destino eterno (veja as palavras de Jesus em Jo 14:1).
Com certeza a Graça não é de graça, custou o sangue precioso do Cordeiro, mas foi exatamente por este sangue que hoje vivemos sob a tutela da graça.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

DISCIPULADO RADICAL - XVII


Vamos continuar seguindo as lições na sequência apresentada por Mateus. Depois de apresentar os ensinos de Jesus Cristo sobre a intimidade do discípulo com o Mestre na oração e no jejum, o Senhor passa a abordar o tema do tesouro a ser buscado e preservado pelo discípulo (Mt 6:19-21).
Jesus fala que há tesouros na terra (v. 19) e tesouros nos céus (v. 20) e que eles são completamente diferentes um do outro – embora um dispute a primazia com o outro. Como entender isto que o próprio Mestre ensina? Os tesouros da terra são perecíveis, transitórios e podem ser roubados. Os tesouros dos céus são duradouros e ninguém pode tirá-los de quem os possua.
Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração (v. 21). Esta é a chave para compreender as reais implicações do que Cristo quis dizer. (1) O meu tesouro consiste naquilo que é realmente importante e pelo qual estou disposto a gastar a minha vida. (2) O meu tesouro é o que merece e precisa ser juntado e guardado e pelo qual eu abdico de tudo o mais. (3) O meu tesouro é o que eu avalio como importante para deixar à posteridade e por isto nele coloco minha esperança – nele está meu coração, o centro de minhas prioridades, emoções e existência. Por isto é fundamental colocar o coração em tesouros que sejam perenes.
Como discípulos do Mestre Jesus, sou desafiado a colocar o meu coração em tesouros que o próprio Cristo guarda e preserva nos céus para sua glória.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CELEBRANDO A COMUNHÃO DOS SANTOS


Periodicamente celebramos em nossa Igreja a Ceia do Senhor, isto fazemos seguindo tanto a ordenança do Mestre (há ordem para partilhar em Lc 22:17) quanto à tradição que nos vem dos cristãos primitivos (veja a constatação do evento pentecostal em At 4:42).
Só por estas citações iniciais já fica clara a ligação entre ceia cristã e comunhão, relacionamento, partilha e fraternidade. Chamá-la de Comunhão seria então reconhecer nesta celebração cristã mais que um rito, mas um momento de reafirmação de valores sagrados de nossa fé e prática.
Assim seguindo essa linha de raciocínio, deixe-me apontar algumas verdades que celebramos sempre que compartilhamos do pão e do vinho em culto ao Senhor (antes de prosseguir veja este conceito de ceia como adoração em 1Co 10:31).
Ter pão e vinho em nossa adoração é celebrar a obra de Cristo na cruz quando desfez a separação entre os seres humanos e a todos nos deu acesso ao Pai, criando um novo homem e fazendo a paz entre nós (está dito em Ef 2:14-18). A ceia deve nos trazer à memória que em Cristo não há mais distinção entre judeu e grego (claro em Rm 10:12).
Voltando a Efésios, sabemos que celebramos quando nos reunimos para celebrar a Cristo o mistério finalmente revelado da suprema vontade de Deus que agora somos co-herdeiros com Israel e membros do mesmo corpo (em Ef 3:2-6, mas veja a forma simbólica como Paulo diz isso em Rm 11:11-24).
O desdobramento desta celebração é que quando comemos e bebemos juntos em memória do crucificado sabemos que foi por ele que deixamos de ser apenas um bocado de gente para nos tornar efetivamente povo de Deus (confira em 1Pe 2:9-10). Se somos hoje o povo escolhido de Deus é porque por Cristo – simbolizado na mesa – nos resgatou para ser seu povo e reino (complete a leitura bíblica em Cl 1:12-13).
Em especial também nos elementos da comunhão celebramos o óleo da bênção derramado na fraternidade cristã (tome as palavras do Sl 133). Quando comemoramos a nossa vida em união – e somente através de Cristo conseguimos transformar este projeto em realidade – trazemos para nossa vivência como comunidade de fé a certeza de que Deus tem interesse pleno nesta unidade (na oração do Mestre em Jo 17:21) e reafirmamos que aqui – e primordialmente aqui – é onde o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (no Sl 133:3).
É com esta visão que nos juntamos periodicamente para celebrar e reafirmar que em Cristo nos tornamos e nos mantemos como Comunhão dos Santos – essencialmente igreja de Cristo. Nesta fraternidade e para glória do Senhor: celebremos a comunhão.
(Na foto acima, alguns músicos que louvam ao Senhor com seus instrumentos em nossa igreja em um momentos em que desenvolviam o espírito de fraternidade e comunhão cristã descontraidamente em um parque de nossa cidade).

segunda-feira, 15 de junho de 2009

DISCIPULADO RADICAL - XVI


Ainda seguindo a oração como atitude espiritual do discípulo, Jesus apresenta o tema do jejum: tendo buscado – e encontrado – a Deus através da oração, a disciplina cristã natural e seguinte e se desenvolver é o jejum. “Quando jejuarem...” (Mt 6:16-18), esta constatação do Mestre vai apontar a algumas implicações sobre esta prática religiosa.
A primeira observação é sobre o fato de não haver uma ordem sobre a prática ou não do jejum: o Mestre não manda jejuar, mas constata que isto deve ser prática usual. Ou seja, para Jesus o jejum é uma renúncia voluntária daquilo que me é importante e necessário. Não sendo obrigado, com o jejum eu me predisponho voluntariamente a renunciar direitos e regalias em prol do discipulado.
Jesus também faz uma relação óbvia e direta entre o jejum e a piedade pessoal. Para o Senhor o jejum é uma atitude individual e tem que ser tratada na mesma intimidade da oração – dentro do quarto – pois é lá que ele produz os seus efeitos: “arrume o cabelo e lave o rosto”, ou seja, não deixe nem por descuido que os outros percebam que você está jejuando.
Ainda é importante destacar que o jejum proposto por Jesus Cristo não tem por objetivo mudar ou mover Deus dos seus propósitos. No jejum bíblico quem é tocado, influenciado e mudado é o discípulo. Deus sempre permanece o mesmo, o discípulo fiel é que se fortalece na prática piedosa do jejum cristão.
O Mestre indica e ordena aos seus discípulos que é necessário haver intimidade com Deus, junto com a oração no quarto fechado, o jejum estimula e produz esta intimidade. Que eu viva esta bênção que o Senhor me oferece para sua exclusiva glória.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

OS PLANOS DE DEUS


O profeta Jeremias que ficou conhecido como o profeta chorão por ter lamentado, no final de seu ministério, pela destruição de Jerusalém não pode ter seu nome apenas associado a este contexto. É dele também uma carta escrita aos exilados judeus na Babilônia na qual critica os pessimistas e apresenta os projetos de Deus para a nação que, por ter sido pecaminosa, foi severamente castigada pelo Senhor, mas que não deveria por isso abandonar a sua fé (leia toda a carta em Jr 29:4-23).
Da carta do profeta queria hoje chamar a atenção apenas ao verso 11 para destacar aquilo que o Senhor tem guardado para os seus, mesmo que em tempos de exílio e purgação.
Em primeiro lugar vamos lembrar que como os judeus nós também não somos deste lugar (Pedro ressalta que somos apenas estrangeiros e peregrinos em 1Pe 2:11). Mas como afirma Jeremias ainda assim não podemos desprezar esta vida e os compromissos que ela nos traz (no contexto aponto ainda as palavras de Mardoqueu em Et 4:14).
Nesta situação, o que Deus tem planejado para nós? A resposta aponta em duas direções.
No presente, o plano de Deus é de paz, saúde e conforto. A palavra que é usada no original hebraico traz exatamente o conceito de que o que Deus deseja para os seus filhos é uma condição de vida digna e tranquila. Mesmo vivendo em meio a aflições (leia Jo 16:33), mas é preciso ficar bem claro que este não é o plano de Deus para o seu povo. Deus tem sempre algo melhor.
É neste sentido que as palavras de Jesus soam para nós como uma garantia para a vida presente: Deixo-vos a paz (Jo 14:27). E o Mestre é explícito quando declara que a paz dele não se compara com a do mundo; por isso não deve haver sequer névoa de temor em nossos corações.
Ele é a nossa paz declarou o apóstolo Paulo em Ef 2:14 e este é o reconhecemos como plano de Deus para o tempo presente.
Em relação ao futuro, Jeremias se refere à esperança. Embora não possamos ver agora como se dará a transformação da história, mas a promessa e garantia que temos é que nada do que vemos hoje permanecerá eternamente (aqui os textos bíblicos são abundantes, leia por exemplo Rm 8:18; Hb 13:14 e Ap 21:5). Repito então: Deus tem sempre o melhor.
O apóstolo João mais uma vez nos conta que Jesus prometeu muitas moradas que já estão prontas na Casa do Pai e que, com certeza, Ele virá em glória para nos levar para as moradas eternas (delicie-se com Jo 14). Mesmo sabendo que é necessário construir aqui uma vida saudável, não podemos perder de vista o nosso destino celestial.
Frise-se que entre os títulos que Paulo dá a Jesus está que ele é a esperança nossa em 1Tm 1:1 e é nesta esperança que nos apoiamos.
Para concluir apenas voltando ao profeta no cativeiro, com ele afirmamos que é o próprio Deus quem tem determinado este presente e o futuro que está reservado para a igreja. Vivamos de acordo com Ele, para a glória dele.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

DISCIPULADO RADICAL - XV


Logo em continuidade à Oração do Pai-Nosso – e de certo modo abrindo um parêntesis – Jesus amplia a questão da reciprocidade do perdão: “... se perdoarem uns aos outros” (Mt 6:14-15). Em primeiro lugar é preciso reafirmar o que foi dito na última reflexão: Não é que o Mestre condiciona um ao outro: o perdão divino é gratuito.
E este é exatamente o ponto de partida para toda a reflexão sobre o perdão. Paulo diz que por merecimento deveria receber a morte mas, de graça, me foi dado o perdão (Rm 8:23). A essência da mensagem cristã é a graça imerecida que foi outorgada por Deus em Cristo Jesus. Isto traz duas implicações básicas: primeiro que não há nada que esteja fora do alcance da ação perdoadora de Cristo e segundo que não há como falar em retribuição ou pagamento de natureza alguma no perdão divino.
A aceitação – pela fé – deste perdão incondicional e não merecido nos apresenta o outro ponto da reflexão: Jesus disse para dar de graça o que de graça recebo (Mt 10:8). Esta é a reciprocidade que o texto fala. Há uma implicação necessária ao discipulado radical que é a extensão do perdão recebido. Não mereço ser perdoado, mas Cristo de graça apagou minha dívida diante de Deus. É baseado neste perdão – e como resposta de gratidão a ele – que devo oferecer também, de graça, o perdão ao meu irmão. Esta é a verdadeira reciprocidade do discípulo de Cristo.
Jesus diz que o Pai Celeste tem perdão para outorgar de graça, mas exige que eu, como retribuição, também de graça perdoe. Isto é discipulado, não opção! E só assim poderei desfrutar toda a extensão das bênçãos advindas do perdão do Mestre.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

POR QUE ACREDITO NA FAMÍLIA?


Falar sobre família sempre foi uma prática comum entre os pregadores cristãos. O assunto está na Bíblia e realmente deve merecer a maior atenção de nossos púlpitos. Em especial hoje em dia quando parece que foi deflagrada uma batalha espiritual contra a família. Mas para início de conversa quero declarar que acredito piamente que esta batalha já está ganha! Mas por que eu acredito na família? Por que posso afirmar que as famílias, em princípio as cristãs, vão prevalecer nesta guerra?
Afirmar como resposta inicial que é porque a família nasceu no coração de Deus e por ela o Senhor tem interesse particular é apenas reafirmar o já bastante conhecido. Então me deixe tentar justificar minha convicção a partir da leitura da parábola do filho pródigo contada por Jesus e registrada por Lucas 15:11-32.
Na história narrada pelo Mestre a família é um lugar onde há diferenças. E mesma elas existindo, são compreendidas e respeitadas. Na parábola o pai tem dois filhos e cada um se comporta de maneira completamente diferente do outro; mas nem por isso são rejeitados ou desprezados por seu pai.
Acredito na família por que somos todos diferentes entre nós – e não há razão nenhuma para sermos iguais – e na família há lugar para todos.
Ainda na parábola a família retratada é um lugar de referência e acolhimento. Lá pelo meio da história o pródigo se lembra da casa do pai e reconhece que somente naquele lugar ele poderia ser acolhido, querido e bem tratado, mesmo depois de tudo que aconteceu. O detalhe é que o mesmo poderia ter acontecido com o outro filho no final da narração se ele escolhesse também ser acolhido pelo amor paterno.
Eu acredito na família por que sei que não importa qual seja nossa história pessoal, sempre teremos uma referência a nos abrigar.
E finalmente, a história conta que foi na família que a vida do filho pode ser reconstruída. Foi na volta para casa que aquele garoto pode experimentar o que é verdadeiramente o perdão e o amor – isso só acontece num ambiente familiar – e assim também poder reconstruir sua própria história. De pródigo rebelde a renascido querido.
É por isso que eu acredito na família como modelo cristão, pois é no seu seio que encontraremos as bases para que nossa vida – que por vezes está maltrapilha – possa ser refeita com carinho e cuidado.
Sei que seria bastante utopia se afirmasse que toda família ainda hoje é assim. Mas este é um modelo ideal que o Senhor nos apresentou para que nos mirássemos nele e construamos a nossa família. Exatamente por ser o que ela é no projeto de Deus é que eu acredito que nossas famílias ainda estão no centro dste projeto.
Oremos que o próprio Senhor nos conceda famílias assim.
(E na foto lá em cima é meu cunhado e minha sobrinha brincando num parque aqui de Aracaju)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Estranha Conversão "Global"


Considerando a série de reportagens que o JN da Rede Globo apresentou na semana passada sobre a ação social dos evangélicos, li o comentário postado por Paulo Nascimento no blog Ópio Coisa Nenhuma - muito bom por sinal (http://www.opiocoisanenhuma.blogspot.com) trazendo uma reflexão sobre o tema.
Lá postei um comentário pessoal sobre o texto dele - e sobre o tema em si - que compartilho aqui:
Querido Paulo Nascimento,
Também não simpatizo com o jornalismo da Rede Globo, como um postulado a priori. Daí compartilho de sua estranheza quanto a conversão global.
Realmente por traz desta aparente aproximação ainda perdura uma ignorância crônica quanto a quem somos e o que estamos fazendo nesta terra brasilis. Não acredito que tudo isso foi de graça. Historicamente sabemos que a pauta do jornalismo dos Marinhos sempre foi tendenciosa política e socialmente, e em se considerando a disputa pelo mercado entre eles e a TV de Macedo – supostamente representante de um segmento especifico de evangélicos – então de verdade a coisa ganha outros ares (isso sem falar da política que se avizinha!).
Mas que eu quero destacar neste comentário é sobre o posicionamento de parte de nossa liderança eclesiástica que fica alvoroçada com estes mimos midiáticos (você citou esta constatação de relance em texto).
Para mim cabem aqui duas observações: uma bíblica e outra mais de cunho social.
Em primeiro lugar há uma absoluta oposição entre os valores deste mundo e os valores do Reino de Deus que professamos (aqui os textos bíblicos são por demais abundantes – posso ler em Mt 20:25-28; em Jo 15:19; em Rm 12:2 entre tantos outros). Quando uma nota no Jornal Nacional – independente do poder de IBOPE e sua influência que ele tenha – é motivo para ser celebrado é porque já deixamos de ter como prioridade aquilo que deveríamos (ainda leio Lc 10:20)!
Outro ponto é que aprendi desde os tempos de estudante de Ciências Sociais a separar os movimentos sociais em dois grupos: aqueles que lutam para comer um pedaço do bolo e aqueles que questionam sobre a receita da qual ele é feito. Como servos de Deus, deveria ser imperioso para a igreja questionar, não aceitar e até se indignar com esta sociedade decrépita cuja estruturação e objetivos pequeno-burguês não deve ser anseio de nenhum de nós (até para respeitar nomes como os de Richard Shaull e Rubem Alves que você citou, entre outros que honram nossa tradição evangélica).
Falando em tradição evangélica, uma atualização dos conceitos de Cidade de Deus a partir da leitura de Agostinho seria bastante útil para recalibrar os passos de nossa caminha cristã brasileira.
De qualquer forma: espero que vozes como a sua não sejam exceção entre os que vivem pela em nossa terra.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

DISCIPULADO RADICAL - XIV


A Oração do Pai-Nosso, ou Oração Dominical (Mt 6:9-13), não é apenas uma das mais conhecidas passagens da piedade ensinada pelo Mestre aos seus discípulos, é também um modelo de devoção para ser aprendida, repetida e experimentada na vida diária do discipulado. Com certeza a riqueza das palavras de Jesus são inestimáveis e delas quero tirar algumas lições, olhando-as como em paralelo.
A Oração é dirigida ao Pai. Esta invocação expressa intimidade e amor filial do discípulo que ora em relação ao Deus que recebe a oração. É um Deus Todo-Poderoso que habita os céus em sua glória. Paralelamente Jesus ensina a suplicar para que venha o Reino: melhor do que me levar até onde Deus está, devo pedir que o próprio Senhor venha com seu Reino e domínio sobre a minha vida e existência.
O segundo paralelismo é entre o perdão que espero receber pelos meus próprios pecados (dívidas) e aquele que eu ofereço aos meus semelhantes. Não é que o Mestre condiciona um ao outro: o perdão divino é gratuito. Mas aqui mais uma vez está demonstrada a lei da reciprocidade tão cara ao discipulado: se espero – e preciso – receber o perdão pela minha dívida contraída para com Deus, tenho que estar disposto a perdoar na mesma medida aqueles que me têm ofendido.
Um último paralelo a se destacar é sobre o maligno: ele está à espreita me tentando e corro sempre o risco de sucumbir, por isso preciso da ajuda divina para vencer a tentação. Ao lado desta segurança no momento da tentação, preciso que o próprio maligno seja afastado de minha vida com sua influência negativa.
Assim posso concluir minha oração como o brado de exaltação: Pois teu é o reino, o poder, e a glória para sempre. Amém!