segunda-feira, 28 de setembro de 2009

E na hora de traduzir ...


Por cerca de uma década tive a oportunidade lecionar as disciplinas de línguas bíblicas no curso teológico aqui em Aracaju.  Durante este período, vários alunos me perguntavam como eu fazia o meu trabalho pessoal de tradução e como eu tratava o texto na hora de produzir ou um texto técnico-teológico ou - mais importante - como eu levava o resultado disso ao púlpito.  Com isso em mente, listei uma série de dez orientações sobre como ainda hoje trato o texto bíblico em língua original e como procuro levá-lo à minhas ovelhas a cada domingo.
Assim, compartilho aqui a lista que preparei:


A – Leve o trabalho de tradução à sério, uma boa exegese depende de uma boa tradução.  Dedique-se ao máximo ao seu trabalho, não o faça com pressa e nem nunca se dê por vencido diante do texto.  Dependa do Espírito de Deus e se ponha a trabalhar.


B – Desconfie do lugar-comum.  A voz do povo nem sempre é a voz de Deus.  Respostas pré-fabricadas também não ajudam.  Faça seu próprio trabalho.


C – Não despreze o trabalho dos que lhe antecederam nesta jornada.  Consulte outras traduções comparando-as com as suas.  Lembre-se que eles enfrentaram os mesmos problemas que você e encontraram soluções que podem lhe servir de pista.  Traduções em outras línguas ajudam muito.  Consulte a Vulgata, a Reina-Valera, a King James, entre outras.


D – Seja criterioso com todas as palavras.  Com certeza a base semântica dos enunciados estará, na maioria das vezes, nos verbos, daí que um deslize na sua tradução truncará todo o significado do texto.  Dê atenção também às pequenas palavras como preposições e conjunções, as chaves sintáticas geralmente se escondem por aí.


E – Mantenha sempre atualizados seus conhecimentos de História e da cultura em que o texto original foi escrito, elas influenciaram grandemente na produção do autógrafo e não podem ser negligenciadas no momento da tradução.


F – Observe variantes e outras informações sobre a história do próprio texto pois também são indispensáveis.  Aqui vale um estudo sério e honesto de crítica bíblica interna e externa.


G – Tenha uma base sólida da teologia do texto.  O autor não estava escrevendo um texto qualquer mas sim parte do que cremos ser a História da Salvação, sendo assim seus escritos devem ser considerados no seu lugar próprio dentro da história da teologia cristã.


H – Pense nos seus leitores.  A sua tradução deve ser suficientemente clara para que seu povo a entenda e suficientemente profunda para que se alimente dela.


I – Seja o mais fiel possível ao original.  Você está traduzindo um texto e não escrevendo um novo que seja seu.  Contudo esta fidelidade deve ser acima de tudo ao espírito e ao significado, e não à letra do texto - isto é bíblico.  Então tenha cuidado com expressões idiomáticas da língua original, observando para que elas continuem com espírito e significado na sua tradução.


J – Veja o que vai levar para o seu povo.  É gratificante observar o trabalho de confecção teológica do texto.  Mas quem senta à mesa deseja comer mais que saber sobre as receitas.


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