sexta-feira, 17 de setembro de 2010

NO JARDIM DO OLIVAL

Trago hoje em minha memória a cena de Jesus no Getsêmani.  Ali era um jardim onde os judeus haviam plantado várias oliveiras e para lá iam em busca de um lugar tranquilo a fim de orar e encontrar a paz.
Lucas conta que Jesus também tinha este costume (confira Lc 22:39).  Mas a cena em especial que os evangelistas narram com tendo acontecido pouco antes da páscoa parece se configurar de contrastes gritantes.  Na companhia de alguns dos seus discípulos mais achegados, o Mestre foi àquele lugar para se encontrar com o Pai na perspectiva da hora fatal que se aproximava.  Neste sentido, o jardim antecipava o calvário e se mostrava como um drama profundamente humano.
O contraste começa a se descortinar quando comparamos o ambiente do jardim com o estado de espírito de Jesus.  Na Bíblia a oliveira é sempre símbolo de alegria e o seu florescer a certeza de que Deus renovou sua bênção para com o seu povo.  Um bom exemplo é a história de Noé quando, ainda na arca, recebeu a pomba de volta com um ramo de oliveira e então soube que o castigo do dilúvio tinha acabado (leia em Gn 8:11).
Entre as oliveiras do jardim, o ânimo de Jesus era exatamente o oposto.  Ele disse: "minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal" (Mt 26:38).  Toda a beleza e alegria que o cercava não foram suficientes para mudar o abatimento e o desconsolo que se enraizava em sua alma.  O homem Jesus estava triste no meio daquela alegria.
Mas isso tinha um porquê.  Aquela agonia humana de Jesus era resultado de dois outros contrastes que ele vivenciava naquele instante.
O homem Jesus era a encarnação do Verbo – a segunda pessoa divina (leia Jo 1:14).  Esta afirmação implica em dizer que o Cristo na eternidade experimentara a presença íntima, a companhia que interpenetra na Trindade. Ali o homem antecipava a solidão absoluta do martírio (atente para o grito na cruz em Mt 27:46).  Este contraste atormentava Jesus.  E nem os discípulos o acompanhava (estavam dormindo com diz Mt 26:40 e 43).
Mas também o Deus-Filho era o criador da vida e a sua verdadeira essência (leia ainda Jo 1:4), e mais na eternidade ele se apresenta como o que era, o que é e o que há de vir, o Todo-poderoso (em Ap 1:8) – aquele que existe por si só.  Naquele momento a certeza da morte, da limitação, da finitude assombrava Jesus em flagrante contradição com sua essência imortal.  E ainda viu seu suor transformado em sangue (narrado por Lc 22:44).
Naquele jardim Jesus encarnou uma humanidade: amedrontada, solitária e mortal, coabitando com a sua divindade: poderosa, solidária e eterna.
Assim, trazendo em minha memória a cena de Jesus no Jardim do olival, louvo a Deus porque Ele passou por aquilo tudo por me amar e hoje a minha própria alma pode se sentir livre daquele terror.  Glória a Cristo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário