terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os Fantasmas da Alma


Enquanto eu calei o meu pecado, envelheceram os meus ossos...O meu humor se tornou em sequidão de estio...Confessei-te o meu pecado, a minha maldade não encobri, e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Salmo 32:1-3)


            
    No capítulo seis do evangelho de Marcos encontramos o rei Herodes mentalmente assombrado pelo fantasma de João Batista, a quem covardemente  mandara matar. No momento em que diziam nas ruas que Jesus seria uma reaparição de Elias, Herodes afirmava que o velho “John”  ressuscitara dos mortos. Em outras palavras, o rei pensava que o decapitado pregador havia  voltado do mundo dos mortos para atormentá-lo. 
     Na verdade, é isso que ocorre quando a mente está encharcada de culpa: no momento em que  alguém deve uma conta à sua própria consciência, qualquer movimento fora do absolutamente corriqueiro, por mais discreto que seja, parece trombetear uma  denúncia, um arrastar de correntes pelos corredores da masmorra interior.
      Assim como Herodes,  nós, também, temos os nossos fantasmas. Somos, em certo sentido, castelos malassombrados, por onde transitam, na escuridão do insconsciente os  “ghosts” que nem sempre aparecem aos olhos do público. Eles permanecem no porão, no calabouço da alma, vivos e ativos, provocando insônia, depressão, melancolia, culpa e, em alguns casos, vontade de não continuar vivendo.
      Muitos  dos fantasmas que atormentam os humanos tem cheiro de sexo. É a assombração daquele marido, ou esposa, que não conseguiu manter a fidelidade conjugal; daquele moço, muito crente, que está envolvido numa relação pré-marital com a namorada, e ninguém sabe; uma jovem senhora que praticou um  aborto e não consegue se livrar do choro do bebê que escuta vindo do cemitério da mente onde o sepultou.
     Outros fantasmas tem cara de dinheiro. É a assombração-capetina daquele homem que sempre se gabou de ser honesto, mas caiu nas garras da sonegação,  propina, suborno ou apropriação pela força ou engodo. De fato, o dinheiro tem uma força xamãnica de atração; uma numinosidade quase religiosa, capaz de arrastar para o abismo e de envenenar a alma até à morte. O dinheiro fascina, entorpece e, por fim, pode gerar um tormento infernal.
      Outros fantasmas gostam mais de família e vivem encostados nas paredes da vida parental. Eles assobram pais abusivos que não conseguem traduzir, em atitudes de amor, o amor que sentem, ou dizem sentir, pelo filhos.  Ouço, com freqüência, filhos que, mesmo depois de adultos, ainda escutam a voz fantasmagórica da mãe ecoando a partir do labirinto da alma. São meninos e meninas quarentões que não conseguiram crescer emocionalmente na mesma proporção do corpo.
     E, assim, os fantasmas vão se reproduzindo no interior trevoso dos humanos, principalmente, daqueles que vivem sob a  bandeira da religião.  É que esse tipo de fantasma tem uma atração especial por “santinhos.”
     Enfim, são muitos, e de muitas faces, os nossos fantasmas. Como exorcisá-los? Integrando-os: se forem escutados, olhados com compaixão e, assim, trazidos à consciência com serenidade e coragem, eles podem até se transformar em anjos. Sim! A melhor maneira de vencer o medo do “buuuuuuu” que fazem é olhar nos olhos deles, vê-los de perto; reconhecer que eles são nossos  fantasmas e não fantasmas dos outros. Em vez de tratá-los como inimigos, devemos abordá-los como aliados em potencial, que podem nos ajudar no caminho do crescimento integral.
     Assim, a culpa pode gerar compaixão, a raiva pode produzir compreensão, a tristeza pode se transformar em esperança e, a fraqueza, se vestir de força.
     Os fantasmas perdem seu poder de destruição quando descobertos e integrados pela confissão psicoterapêtica, interrelacional, bíblica ou mesmo  intrapessoal: a luz os transforma. 
     Pense nisso!
     Em Cristo - que desceu ao mundo dos mortos para livrar os vivos de seus fantasmas


     Josias Bezerra DaSilva

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