terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Por que Deus dá a profecia?


Escrevi este texto em 1996 e ele foi publicado em nosso "O Jornal Batista" e agora, passada mais de uma década, vejo que as considerações feitas então ainda continuam válidas, daí resolvi postar aqui em nosso blog na íntegra (inclusive com relação a data).
(Esta foto aí é do púlpito onde Deus tem me dado a oportunidade de trazer a palavra todo domingo)

A despeito das previsões do Positivismo, o século XX tem visto ressurgir o espírito religioso.  Curandeiros, místicos e profetas povoam o nosso mundo secularizado.
Os cristãos não escapam desta tendência e aproveitam este tempo para vivenciarem os seus dons carismáticos e lançarem suas profecias.
O fenômeno da profecia antecede até o próprio movimento do cristianismo.  O profetismo clássico em Israel é um dos momentos mais significativos da história das religiões.  A certeza de que assim fala Javé... inspirou o judaísmo e transpirou para o cristianismo desde muito cedo.  Mesmo os cristãos tendo a convicção de que havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, também é certo que nestes últimos dias a nós nos falou pelo seu Filho (Hb 1:1-2).  Mas não se pode negar que ainda são vivas as palavras do profeta Amós quando diz que  certamente o Senhor não fará coisa alguma sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas (Amós 3:7).
Para qualquer lado que se olhe é inegável que o Deus dos cristãos dá a profecia aos seus servos, e faz isso consciente e intencionalmente, hoje, através do seu Santo Espírito.  Então, por que Deus dá a profecia?
Deus tem interesse na história da humanidade.  Homens e mulheres constróem a sua  própria história ao longo da caminhada decidindo o que fazer nas diversas circunstâncias e situações do dia a dia, mas o Filho de Deus que tem nos falado dirige esta história conduzindo-a de modo a que o Reino de Deus possa achar espaço na construção dos seres humanos.
Nas diversas decisões, homens e mulheres têm se desviado do projeto original de Deus e assim se encaminhado a autodestruição quer como indivíduos quer como comunidade.  É nesta situação de inegável aniquilamento que Deus dá a profecia.
A História sagrada conta que Deus foi ao encontro de Jonas e lhe ordenou que fosse a grande cidade de Nínive e exortasse àquele povo para que se arrependesse antes que Deus os destruísse.  A profecia vem assim ao encontro do povo e o desafia a voltar-se para o Senhor enquanto há tempo de volta.  No caso de Jonas, parece que só o próprio profeta não entendeu o objetivo da profecia.
Com Ezequiel as palavras divinas parecem mais claras: Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; quando ouvires uma palavra da minha boca, avisá-los-á da minha parte.  Quando eu disser ao ímpio: “certamente morrerás”; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca de seu mau caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade; (...) por outro lado se tu avisares o justo, para que o justo não peque, e ele não pecar, certamente viverá, porque recebeu o aviso; e tu livraste a tua alma (Ezequiel 3:17-21).
Deus dá a profecia porque tem interesse em que o ímpio se desvie dos seus maus caminhos e se converta ao Senhor; dá a profecia porque espera que o justo não venha a pecar e se afaste de Deus.  A profecia vem de encontro ao ser humano que está no processo da vida, diante da possibilidade de perecer, para que este possa escolher seus caminhos.
É certo que a alma que pecar, esta morrerá, mas Deus dá a profecia para que esta alma que está em pecado possa se reposicionar diante de Deus.  A palavra de Deus na boca dos profetas não é a predição do cataclisma final e fatal mas é o atestado do amor e do cuidado de Deus para com os seus filhos para que estes possam repensar e reconstruir as suas próprias histórias e assim evitarem o mal que está por vir.
A profecia dada por Deus não é o atestado da fatalidade diante da qual nada resta a humanidade a fazer a não ser se conformarem às circunstâncias.  Nada mais estranho à profecia que o fatalismo, ou a visão de que o mundo está irremediavelmente perdido e portanto nos afastemos dele esperando que Cristo volte para exercer a sua justiça.  Deus dá a profecia para que o mundo – criação conjunta de Deus e seres humanos – possa não ser abandonado à sorte do tem de ser mas que possa ser vislumbrado sob a ótica do pode ser.
 O Jornal Batista – Ano XCV – nº 46 – 24 a 30/11/96 – página 15

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